sexta-feira, 24 de outubro de 2014

CPI, Trade Deficit, Unemployment… Qual é o número da moda?

Nos últimos anos, com a estabilidade monetária, e com a integração dos mercados brasileiros aos símiles da banda rica, nossos traders passaram a acompanhar, e recitar com intimidade, o rosário de estatísticas que Washington divulga, religiosamente, em dias e horas que se pode anotar na agenda com a antecedência que se quiser. O desemprego de dezembro de 2002? Pode anotar: sai na sexta-feira, dia 7 de fevereiro de 2003, às 8:30 da manhã, hora de Washington, 11:30 da manhã, hora de Brasília, se não anteciparem o fim do horário de verão. Pois aqui, nunca se sabe.
Bem, mas qual das estatísticas é a mais importante? A do desemprego? A do início de construção de casas? O índice de preços dos produtores? As vendas de automóveis?
É possível que seja o déficit da balança comercial – o certo seria dizer-se resultado, e não déficit, mas como nem eu nem ninguém se lembra de alguma época em que os Estados Unidos tiveram superávit (iriam colocar o superávit aonde?) a estatística é sempre citada como sendo déficit. Bem, não tergiversando, qual delas?
Varia. Varia de acordo com a época. E com a moda. Melhor dizendo: a época faz o número, e a moda o mantém por algum tempo. Até que surge uma outra época, novos fundamentos, e com eles um novo número, digamos, de estimação.
No período inflacionário dos anos setenta, época da cri-se energética, o mercado olhava quase que tão somente para o CPI (índice de preços ao consumidor) e PPI (índice de preços dos produtores), fortemente influenciados pela cotação ascendente do petróleo. Quando os números da inflação vinham acima do esperado, as ações e os títulos do Tesouro despencavam; os metais (ouro e prata eram a sensação daqueles tempos) e as commodities agrícolas subiam. Sucederam-se alguns bull markets memoráveis, e jamais repetidos na mesma intensidade, como o do açúcar (1974), do cacau (1977), da soja (1973), do café (1977) e, obviamente, do petróleo (em Roterdã, pois ainda não havia o futuro da Nymex), além dos já citados metais preciosos. Embora houvesse fundamentos de oferta e demanda sustentando cada um desses mercados, nos dias do CPI e do PPI é que eles se moviam para valer. Uma festa para os touros.
Quando assumiu o posto de chairman do Fed, em 1979, Paul Volcker, antecessor de Alan Greenspan, acabou com a farra do boi, estrangulando a base monetária e, com ela, a inflação. O mercado desviou suas atenções para os números do Money supply, divulgados (como são até hoje) às quintas-feiras, logo após o fechamento da Bolsa de Valores de Nova York.
Os traders passaram a se interessar por Money supply, M1, M2, essas coisas. Foi a bola da vez. A moda.
Inflação controlada, dinheiro escasso, juros reais al-tos, bolsas de valores em baixa, commodities no CTI. Iniciou-se o bull market do dólar, alimentado às quintas-feiras pelos números da base monetária, que os traders examinavam com lentes de microscópio.
Dólar alto, conseqüência: agravamento do déficit comer-cial (não nos esqueçamos que eles jamais têm superávit). E o mercado passou a ser a “loteria do déficit”, segundo palavras de um analista que, numa madrugada invernal de Chicago (devido ao fuso horário, o número sai às sete e meia da manhã no Meio-oeste) queixou-se a mim, roendo as unhas e rangendo os dentes, de que nada adiantava analisar os fundamentos de cada mercado, se tudo era resolvido no dia da divulgação da balança…, perdão, do déficit.
Veio o colapso do dólar; a balança melhorou. E o mercado a esqueceu por um bom tempo. Passou a cuidar de desemprego (que mais tarde tornou-se pleno emprego). Explicitando: passou a cuidar de Civilian Non Farm Payroll Jobs, palavrão divulgado nas manhãs das primeiras sextas-feiras de cada mês, e que, em português mais do que arrevesado, significa algo como “Empregos civis não agrícolas relacionados em folhas de pagamento”. Que tornou-se o número da moda do milagre americano.
Nestes tempos de globalização, onde da coxia se espreita um novo milênio, o mercado encontra-se em mutação. Tudo indica que vem moda por aí. Pode ser o retorno da loteria do déficit (que anda registrando novos recordes, em função da recessão asiática). Pode ser algo diferente. Pois os traders são dados a modismos, e o cardápio, farto: Housing Starts, Durable Goods Orders, Consumer Confidence, Building Permits, Retail Sales, etc, etc, etc, que Washington divulgará pelo novo milênio a dentro. Sempre no dia e hora aprazada.
Nós, ao sul do equador, enquanto partilhamos dos folgue-dos dos novos tempos, não devemos nos esquecer, batendo na madeira, que, durante décadas, tivemos apenas uma moda, um número, uma estatística, vestimos não mais que o abadá e os paetês da inflação. Obscenos em seu brilho traiçoeiro, mascarados em moedas de proveta, indexadores escamoteáveis, tablitas de ocasião…
Produção industrial, Empregos civis não agrícolas relacionados em folhas de pagamento (urgh!), Vendas a Varejo, Vendas de automóveis, Ordens de bens duráveis, Construção de imóveis, que venham as nossas modas…
Por Ivan Sant’Anna
Comentário Scalper Trader:
“Muito nos perguntam: – Porque opera notícias?Nós operamos notícias pois partimos do pressuposto de que as variáveis que compõem o fluxo de ordem explicam preços. Os Indicadores Econômicos e os Breaking News tem potencial para gerar fluxo de ordens, sendo assim a liberação dessa notícia tem grandes possibilidades de volatilidade e dinheiro disponível para quem sabe operar no Day Trade. – Mas vocês interpretam as notícias ou o impacto nos fundamentos? Não interpretamos a notícia nós apenas reagimos ao fluxo de ordens gerado no momento.”

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