quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Astuto Imbecille

Seria lógico definir os super traders como sendo aqueles que têm a todo momento opiniões próprias, sempre alicerçadas na mais profunda convicção. Por outro lado, operadores medianos (para não dizer ‘medíocres’) seriam os que seguem a opinião dos outros, apenas mais um búfalo da manada. Certo?
Errado. O verdadeiro trader é aquele que sabe não ser coerente, que muda de opinião, que descobre, cedo o bastante, que suas análises e estratégias estavam erradas.  Se errar é humano, e inevitável, no universo do mercado financeiro corrigir o erro, revertendo-o em acerto, é fundamental.
- Bem, reconheço que ontem à noite eu disse que o negócio era comprar mas, honestamente, acho que o mercado vai cair — admite o “espada”, simulando estar envergonhado. Isso, é lógico, após ter revertido sua posição. “Errei”, “mudei”, é o segredo do negócio. As simple as that!
Alguns livros de auto-ajuda e sites de bobagens que inundam a internet têm o hábito de afirmar que se você quer alguma coisa com enorme empenho e força de vontade ela inevitavelmente vai acontecer. “Pode ser”, eu desdenho, descrente. E pago pra ver. Ou, quem sabe, isso é verdade em algumas áreas de atividade. Mas, no nosso mercado, eu garanto: Em meio à dança das cotações, querer ou não querer, individualmente, não faz a menor diferença. O mercado obedece àquilo que a maioria quer ou pensa — e a maioria é movida por ambição e medo —, mesmo que o opositor dessa corrente ou tendência tenha a tenacidade de um triatleta. O mercado não é como um rio, que segue sempre na mesma direção. Muito menos como o mar, que vai e volta no ritmo da maré.
O mercado é rebelde, ingovernável, maquiavélico, cruel. É mais fácil prever os fatos observando o mercado, do que prever o mercado observando os fatos. Quando os preços não obedecem aos fundamentos, siga os preços. Estes, com raras exceções — o 11 de setembro é uma delas —, surgem à tona antes dos fatos.
Já que o assunto é cópia, despersonalização meritória, acho importante confessar que tirei o tema deste artigo ontem à tarde, quando eu voava entre Porto Alegre, onde fui fazer uma palestra, e o Rio de Janeiro, lendo A Consciência de Zeno (La coscienza di Zeno) do genial escritor italiano Italo Svevo (1861-1928).
No capitulo sete, intitulado História de uma sociedade comercial, Svevo assim descreve o personagem Guido:
O principal defeito de Guido era uma estranha avareza, ele que fora dos negócios se mostrava tão generoso. Quando um negócio se revelava bom, liquidava-o apressadamente, ávido de realizar o pequeno lucro daí provindo. Quando, ao contrario, se encontrava num negócio desfavorável, só decidia o momento de sair quando os efeitos já abalavam o seu patrimônio. Por isso creio que os seus prejuízos sempre foram relevantes e mínimos os seus lucros. As qualidades de um comerciante não são mais do que as conseqüências de todo o seu organismo, da ponta dos cabelos às unhas dos pés. A Guido se aplicaria perfeitamente uma expressão dos gregos: “astuto imbecil”. Verdadeiramente astuto, mas um autêntico palerma. - veramente astuto, ma anche veramente uno scimunito - Era cheio de umas astúcias que só serviam para lubrificar o plano inclinado sobre o qual deslizava cada vez mais para baixo.”
Italo Svevo não foi um qualquer. Basta dizer que seus textos eram lidos, e revisados, ainda em manuscrito, pelo irlandês James Joyce, por muitos considerados como o maior escritor de língua inglesa dos tempos modernos. Joyce ajudou Svevo a traduzir A Consciência de Zeno para o inglês e o francês.             Quem sabe algum trader do mercado americano de ações leu o livro, publicado em 1923, e, tirando lições — sobre o que não se deve fazer — do personagem Guido, usufruiu, como touro, a alta dos Anos Vinte e, depois, vestindo a pele do urso, surfou na gigantesca onda da baixa ao longo da Grande Depressão.
É bem possível que o ambiente no qual Svevo viveu o tenha ajudado a ver as coisas sempre com pluralidade. Trieste, por exemplo, sua cidade de nascimento e de criação, alternou-se politicamente, ora pertencendo ao Império Austro-húngaro, ora à Itália, ora sendo um estado autônomo. A mãe de Italo era judia. O pai, um comerciante de vidros cristão.
Depois de seguir, ao longo de 35 anos, os preceitos da religião judaica, Svevo se converteu ao catolicismo. Seu verdadeiro nome era Aron Hector Schmitz, que ele mudou para Ettore Schmitz, mas assinou seus livros com o pseudônimo de Italo Svevo.  Antes de ser escritor, ele trabalhou no mercado financeiro, como trader do Union Bank de Viena.
Dual, plural, advogado do diabo, espírito de porco, do contra, tudo isso um verdadeiro Trader, com “T” em caixa-alta, tem de ser. Por outro lado, jamais — e isso é uma das regras básicas de sucesso na profissão — poderá envolver-se emocionalmente com sua posição. Seu preço de compra, ou de venda, é aquele que o mercado exibe naquele momento. Seu objetivo, sair quando o mercado virou. Sempre e humildemente operando no rastro da manada.
Por Ivan Sant’Anna
Comentário Scalper Trader:
” Para sobreviver no mercado seguimos dois preceitos muito importantes: Adaptação e Correção de Erros. Quem não se adapta o mercado engole… Hoje seu trade está funcionando e amanhã não mais… O mercado está mudando muito rápido, está muito dinâmico… É preciso se reinventar todo dia… Porém a única forma de fazer isso é através da análise dos trades e da auto-análise… Foque nos trades bons e elimine os trades ruins… Não deixe o emocional impactar esses trades… Seja frio e calculista… Esse é o caminho da consistência… ”

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