Meu interesse pelo mercado de capitais começou cedo. Aos 16 anos já participava de alguns IPO (Oferta Pública de Ações) e, devido ao momento econômico do Brasil na época fiz algumas operações bem sucedidas. Tal interesse pelo mercado financeiro chamou a atenção de um amigo, que estava iniciando uma área de derivativos em uma corretora constituída há pouco tempo. Este por sua vez, convidou-me para trabalhar em sua equipe e eu já muito interessado e fascinado pelo mercado aceitei de bate pronto.
Meu primeiro dia de trabalho como profissional foi outubro de 2008, onde recém havia estourado o subprime nos EUA e assisti a dois Circuit Break na Bovespa, um com a queda de 10% e o outro de 15%.
Assustei-me, pois de repente estava em um ambiente com aproximadamente 60 operadores passando mal, era gente a todo momento entrando e saindo do banheiro, sofrendo consequências físicas devido as suas operações alavancadas na compra de ações.
Estava eu começando em um dos piores momentos do mercado financeiro, porém muito determinado, pois sabia que o mercado financeiro era um dos lugares que mais rapidamente poderia alcançar uma ascensão financeira. Foi então que comecei a me dedicar e observar atentamente todos ao redor. Era um ambiente de bastante ostentação, lembro-me de ouvir muitos dizendo que eu nem faculdade havia concluído, ganhava como diretor de multinacional e tinha estagiários trabalhando para mim. Outros eram extremamente arrogantes e somente depois de eu estar trabalhando há seis meses começaram a me cumprimentar ao passar no corredor. Recordo-me que estas coisas me chocaram muito, porque eram valores bem diferentes dos meus, em contrapartida eu sabia que estava no ambiente certo para alcançar meus objetivos.
Comecei a estudar setups de compra e venda, buscando entender a filosofia dos operadores(brokers), e ao mesmo operando para uma carteira de clientes. Meu objetivo futuro era operar somente para mim, por isso o interesse pela vida dos brokers crescia diariamente.
Certo dia estava fechando uma operação com um colega de outra corretora e ele me disse, que havia um amigo dele que poderia fechar negócio comigo e então me passou o contato dele. Quando fui passar o negócio no mercado vi que este operador não tinha corretora e sim um código que dizia 997 e não o nome de uma corretora como todos e inclusive eu. Eu já havia observado que todos os dias este 997 ganhava dinheiro no mercado e que operava volumes muito altos, então eu questionei por que ele era 997, ele me disse que possuía titulo de bolsa, ou seja, ele operava em seu próprio nome e não precisava de corretora para atuar no mercado. Eu já era fascinado com o que ele fazia no mercado e por telefone depois de fecharmos um negócio , perguntei se ele era do pregão viva-voz e se poderia me conseguir um colete dos operadores do pregão.
Ele muito solicito, disse que era do tempo do pregão viva-voz e que atuava no mercado desde 1990, e, sem me cobrar nada me enviou pelo correio um colete, que tenho até hoje pendurado em um quadro em meu escritório.
Sentindo que ele apesar de ser muito vitorioso no mercado parecia ser uma pessoa muito acessível perguntei se poderia visita-lo em São Paulo e ele prontamente disse que sim. Fui para São Paulo em um prédio próximo a Bovespa, onde ao entrar havia uma cabine toda de vidro, onde passaram detector de metal em mim e liberaram, falei com uma secretaria, que o chamou e ele foi me receber em uma sala de reuniões. Depois de conversarmos, levou-me para conhecer sua sala, onde possui um analista próprio e mais um operador 997 que trabalhava com ele no mesmo ambiente.
Fiquei impressionado pois apesar de ser alguém extremamente bem sucedido no mercado e possuir toda uma estrutura ao seu redor, a simplicidade e a humildade prevaleciam em seu caráter, tratava-se de alguém com o perfil totalmente oposto das pessoas que eu havia encontrado quando comecei a trabalhar no mercado financeiro. Aquilo me chocou, como pode um cara milionário, com anos de mercado ter esta simplicidade e a corretora onde eu trabalhava, ter jovens em torno de seus 23 anos e com menos de dois anos de mercado ostentando tamanha soberba e arrogância.
Conhecer este operador especial (Scalper) foi o passo que eu precisava para então começar a me dedicar a operar somente para mim, pois ao me identificar com seus valores de vida, de humildade, simplicidade e respeito ao próximo, tracei um referencial a seguir. Ele me ensinou boa parte do que sei e eu esperava aprender sobre um setup ou algo assim, mas não foi isso que aconteceu somente. Ele me ensinou que mercado é ter uma filosofia vencedora, que mercado muda constantemente e você precisa estar sempre se adaptando a estas mudanças, mas que os valores são sempre os mesmos.
Sentir o fluxo do mercado, ser humilde e reconhecer rapidamente seus erros, mudando de direção, não insistindo em operações perdedoras e sabendo que o mercado não está nem ai para o que você acha, ele tem uma trajetória própria e você precisa segui-la, independente do que você pensa. Decididamente a subjetividade do operador não e algo que deva ser considerado. Ser tranquilo e saber rir de seus próprios erros são características peculiares a quem vive de mercado, assim como, conservar-se ciente de que esta no mercado para ganhar dinheiro e manter-se sempre focado em seu objetivo.
Muitos que me procuram me perguntam qual a minha forma operacional. Eu não possuo um setup que diga quando devo entrar ou sair do mercado, apenas busco identificar o fluxo de ordens e segui-lo, procuro reconhecer quando estou no lado errado buscando corrigir o mais rápido possível, desapegando-me de vaidades e achismos.
Nunca em nenhum dia eu apostei com alguém a direção do mercado, nunca discutimos o que um achava ou o outro achava, cada um respeitava a opinião do outro e administrava o seu operacional, o que era comum enquanto broker e assistia pessoas apostando almoço para ver quem acertava a direção do mercado. Se você disser a um trader que acredita na alta, ele simplesmente vai dizer, então compra e ganha dinheiro com isto.
Este tem que ser seu pensamento, ou seja, não importa se você absorveu o máximo de informações, tome sua decisão e ganhe dinheiro com isto.
Acredito ter conseguido passar através destes detalhes a sutileza das diferenças de um broker que opera para clientes e ganha seu salário sobre a corretagem gerada pelos clientes e um trader que vive do seu operacional e de seu desempenho no mercado financeiro.
Um mercado em que apenas 10% ou menos das pessoas são vencedoras. Por mais que ambos atuem no mesmo nicho, são filosofias e posturas bem diferentes. Digo isto com a propriedade de quem já atuou nos dois lados. Hoje sei que muitos daqueles brokers que vi de nariz em pé, não estão mais atuando e os traders simples e humildes que conheci mantem-se e prosperam. Torço para que estes continuem por muito mais anos, pois são muito importantes para o mercado e para a liquidez que proporcionam ao mesmo, adicionando-se a isso seu valor como referencia para novas gerações que surjam futuramente neste mercado.
Por Leandro Paz – Trader e Sócio da Opere Futuros
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