sexta-feira, 29 de agosto de 2014

De Broker a Trader o que mudou

Meu  interesse  pelo  mercado  de  capitais começou  cedo. Aos  16  anos  já  participava  de  alguns  IPO  (Oferta  Pública  de Ações)  e,  devido  ao momento econômico do Brasil na época fiz algumas operações bem sucedidas. Tal interesse pelo mercado financeiro chamou a atenção de um amigo, que  estava  iniciando  uma  área  de  derivativos  em uma corretora constituída há pouco tempo. Este por sua vez, convidou-me para trabalhar em sua equipe e eu já muito interessado e fascinado pelo mercado aceitei de bate pronto.
Meu primeiro dia de trabalho como profissional foi outubro de 2008, onde recém havia estourado o subprime nos EUA e assisti a dois Circuit Break na Bovespa, um com a queda de 10% e o outro de 15%.
Assustei-me, pois de repente estava em um ambiente  com  aproximadamente  60 operadores   passando mal, era gente a todo momento entrando e saindo do banheiro, sofrendo consequências físicas devido as suas operações alavancadas na compra de ações.
Estava eu começando em um dos piores momentos do mercado financeiro, porém muito determinado, pois sabia que o mercado financeiro era um dos lugares que mais rapidamente poderia alcançar uma ascensão financeira. Foi então que comecei a me dedicar e observar atentamente todos ao redor. Era um ambiente de bastante ostentação, lembro-me de ouvir muitos dizendo que eu nem faculdade havia concluído, ganhava como diretor de multinacional e tinha estagiários trabalhando para mim. Outros eram extremamente arrogantes e somente depois de eu estar trabalhando há seis meses começaram a me cumprimentar ao passar no corredor. Recordo-me que estas coisas me chocaram muito, porque eram valores bem diferentes dos meus, em contrapartida eu sabia que estava no ambiente certo para alcançar meus objetivos.
Comecei  a  estudar  setups  de  compra  e  venda, buscando entender a filosofia dos operadores(brokers), e ao mesmo operando para uma carteira de clientes.  Meu  objetivo  futuro  era  operar  somente para mim, por isso o interesse pela vida dos brokers crescia diariamente.
Certo dia estava fechando uma operação com um colega de outra corretora e ele me disse, que havia um amigo dele que poderia fechar negócio comigo e então me passou o contato dele. Quando fui passar o negócio no mercado vi que este operador não tinha corretora e sim um código que dizia 997 e não o  nome  de  uma  corretora  como  todos  e  inclusive eu. Eu já havia observado que todos os dias este 997 ganhava dinheiro no mercado e que operava volumes  muito  altos,  então  eu  questionei  por  que ele era 997, ele me disse que possuía titulo de bolsa, ou seja, ele operava em seu próprio nome e não precisava de corretora para atuar no mercado. Eu já era fascinado com o que ele fazia no mercado e por telefone depois de fecharmos um negócio , perguntei se ele era do pregão viva-voz e se poderia me conseguir um colete dos operadores do pregão.
Ele muito solicito, disse que era do tempo do pregão viva-voz e que atuava no mercado desde 1990, e, sem me cobrar nada me enviou pelo correio um colete, que tenho até hoje pendurado em um quadro em meu escritório.
Sentindo que ele apesar de ser muito vitorioso no mercado parecia ser uma pessoa muito acessível perguntei se poderia visita-lo em São Paulo e ele prontamente  disse  que  sim.  Fui  para  São  Paulo em um prédio próximo a Bovespa, onde ao entrar havia  uma  cabine  toda  de  vidro,  onde  passaram detector de metal em mim e liberaram, falei com uma secretaria, que o chamou e ele foi me receber em uma  sala  de  reuniões.  Depois  de  conversarmos, levou-me  para  conhecer  sua  sala,  onde  possui um  analista  próprio  e  mais  um  operador  997  que trabalhava com ele no mesmo ambiente.
Fiquei impressionado pois apesar de ser alguém extremamente  bem  sucedido  no  mercado  e  possuir  toda  uma  estrutura  ao  seu  redor,  a  simplicidade  e  a  humildade  prevaleciam  em  seu  caráter, tratava-se de alguém com o perfil totalmente oposto das pessoas  que  eu    havia  encontrado  quando comecei a trabalhar no mercado financeiro. Aquilo me chocou, como pode um cara milionário, com  anos  de  mercado  ter  esta  simplicidade  e  a corretora  onde  eu  trabalhava,  ter  jovens  em torno de seus 23 anos e com menos de dois anos de mercado  ostentando  tamanha  soberba  e arrogância.
Conhecer  este  operador  especial (Scalper)  foi  o passo  que  eu  precisava  para  então  começar  a me  dedicar  a  operar  somente  para  mim,  pois ao me identificar com seus valores de vida, de humildade,  simplicidade  e  respeito  ao  próximo, tracei um referencial a seguir. Ele me ensinou boa parte do que sei e eu esperava aprender sobre um setup ou algo assim, mas não foi isso que aconteceu somente.  Ele  me  ensinou  que  mercado  é  ter uma filosofia vencedora, que mercado muda constantemente  e  você  precisa  estar  sempre  se adaptando a estas mudanças, mas que os valores são sempre os mesmos.
Sentir o fluxo do mercado, ser humilde e reconhecer rapidamente seus erros, mudando de direção, não insistindo  em  operações  perdedoras  e  sabendo que o mercado não está nem ai para o que você acha, ele tem uma trajetória própria e você precisa segui-la,  independente  do  que  você  pensa. Decididamente  a  subjetividade  do  operador  não e  algo  que  deva  ser  considerado.  Ser  tranquilo  e saber rir de seus próprios erros são características peculiares a quem vive de mercado, assim como, conservar-se ciente de que esta no mercado para ganhar dinheiro e manter-se sempre focado em seu objetivo.
Muitos  que  me  procuram  me  perguntam  qual  a minha forma operacional. Eu não possuo um setup que diga quando devo entrar ou sair do mercado, apenas busco identificar o fluxo de ordens e segui-lo, procuro reconhecer  quando  estou  no  lado  errado  buscando corrigir o mais rápido possível, desapegando-me de vaidades e achismos.
Nunca  em nenhum  dia  eu  apostei  com  alguém  a  direção  do mercado,  nunca  discutimos  o  que  um  achava ou  o  outro  achava,  cada  um  respeitava  a  opinião do  outro  e  administrava  o  seu  operacional,  o  que era  comum  enquanto   broker  e  assistia  pessoas apostando almoço para ver quem acertava a direção do mercado. Se você disser a um trader que acredita na alta, ele simplesmente vai dizer, então compra e ganha dinheiro com isto.
Este  tem  que  ser  seu  pensamento,  ou  seja,  não  importa   se  você absorveu  o  máximo  de  informações,  tome  sua decisão e ganhe dinheiro com isto.
Acredito  ter  conseguido  passar  através  destes detalhes  a  sutileza  das   diferenças  de  um  broker que opera para clientes e ganha seu salário sobre a corretagem gerada pelos clientes e um trader que vive do seu operacional e de seu desempenho no mercado financeiro.
Um mercado em que apenas 10% ou menos das pessoas  são  vencedoras.  Por  mais  que  ambos atuem no mesmo nicho, são filosofias e posturas bem diferentes. Digo  isto  com  a  propriedade  de quem  já  atuou  nos  dois  lados.  Hoje  sei  que muitos  daqueles  brokers  que  vi  de  nariz  em  pé, não  estão  mais  atuando  e  os  traders  simples e  humildes  que  conheci  mantem-se  e  prosperam. Torço  para  que  estes  continuem  por  muito  mais anos,  pois  são  muito  importantes  para  o  mercado e para a liquidez que proporcionam ao mesmo, adicionando-se  a  isso  seu  valor  como  referencia para novas gerações que surjam futuramente neste mercado.
Por Leandro Paz – Trader e Sócio da Opere Futuros

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